19 de Março de 2024

"A vontade era ficar ali no caminho, em qualquer lugar bem vazio, silencioso e longe da civilização"

Foto: Acervo pessoal

Eu Fui! Trekking do Descobrimento

“O roteiro que eu percorri começa no município de Prado, mais precisamente em Cumuruxatiba, uma vila de pescadores super relax cheia de bares pé na areia, com redes estrategicamente posicionadas para o oceano. A primeira  parada, 12 km depois de 'Cumu é a Barra do Cahy um lugar onde eu provavelmente nunca teria pisado se não fosse pelo itinerário do trekking, porque esse ponto em que pernoitamos só existe para hospedagem mesmo e fica no meio do nada, não é como uma pousadinha nos arredores de um balneário. É um camping com restaurante, uma boa infra de banheiros e coqueirais majestosos com os coqueiros mais compridos que eu já tinha visto. Mesmo sendo amante e frequentadora do Sul da Bahia há mais de quinze anos, fiquei bem impressionada com a imponência daquele coqueiral. Passamos uma noite de lua cheia inacreditavelmente bela e pela manhã, fiz amizade com uma indiazinha que estava vendendo óleo de coco feito ali mesmo, pela mãe dela. No melhor estilo escambo, dei um hidratante de calêndula da weleda para ela e ganhei 30 ml do melhor oleo de coco da minha vida, mas ela queria mesmo uma camiseta do trekking.  

A próxima etapa foi até Corumbau um lugar muito aconchegante, com um banho de mar confortável, pois não há corais nem rochas e a faixa de areia é bem larga e tem cerveja bem geladinha e puro malte servida quase dentro  d’água. Havia dois bares localizados na praia mesmo e um restaurante  no camping que era bem espaçoso e servia um boa variedade de drinks aperitivos e refeições. Essa caminhada me pareceu muito rápida, com areia plana a maior parte do caminho e, felizmente, muitas nuvens que não deixaram o sol nos castigar. Aliás, demos muita sorte com o tempo em todo o percurso. Houve alguma chuva, mas muito branda só para refrescar e, exceto pelo último dia (também o mais longo com 21 Km), o sol nunca esteve totalmente descoberto por muito tempo. 

De Corumbau para Caraíva, passamos pela Ponta do Corumbau, onde eu queria ter ficado mais tempo, mas o cronograma não permitia. Nesse dia, a faixa de areia que forma a Ponta estava toda emersa, como uma passarela flutuante. Percorrer aquele caminho com mar de todos os lados e em todos os tons de azul e verde que a só a Natureza sabe pintar  fez a gente se prometer que vai voltar. Chegar em Caraíva foi como subir num podium. Esse dia foi o mais cansativo, meio enduro mesmo, com travessia de rio, areia inclinada, areia fofa, muito calor e vontade de parar no meio do caminho para ficar tomando banho de mar com os indiozinhos perdidos no tempo. Foi muito emocionante ver aquelas crianças em total sintonia com o meio ambiente, brincando nas ondas amarradonas, sem roupas nem vergonha, seres tão naturais e integrados como nunca vai ser possível para a maioria dos humanos. Eles não falavam português, mas demonstravam com os olhos e sorrisos tudo o que era preciso saber: que eles pertenciam à Terra e ela a eles. 

E chegamos a Caraíva...que é, para mim, a melhor representação do que eu amo na Bahia: o encontro do rio com o mar. Faz parte da Área de Proteção Ambiental de Trancoso e está bem próxima também do Parque Nacional do Mote Pascoal, que aliás, foi avistado durante o percurso desse dia. Apesar de ser uma vila mais chique, com restaurantes e lojinhas sofisticadas, opções bem confortáveis de hospedagem e um destino turístico há muito já frequentado pelos gringos descolados, a galera do Sul e Sudeste que curte uma badalação zen, Caraíva soube conservar muito bem seu charme rústico. Lá não circulam carros e a via de chegada e partida é o rio e, no nosso caso, as canelas em seguida! 

No dia seguinte, rumamos à Curuípe e pernoitamos na Praia do Espelho, acampando num terreno bem no alto da falésia. A descida para a praia e a subida de volta era por uma mini trilha, que já não representava nenhum esforço, especialmente sem a cargueira nas costas! O lugar é encantador, especialmente a vista para o mar do alto da falésia que se atravessa pouco antes da chegada no camping. E a Caipirinha servida no Brisa do Mar não dá para descrever. Parecia um líquido psicodélico que abre a consciência, mas te deixa calmo e te transforma no rei da dialética. Nunca um grupo conversou tanto como naquela tarde e noite. Sócrates ficaria orgulhoso.

Os 21 km finais que nos levaram a Trancoso fluíram muito suavemente. Não sei se foi porque a expectativa era de esperar o pior para o último dia ou se porque já estávamos mais fortes mesmo. Além do mais, era dia 31 de dezembro, dia das reflexões e também do deixa pra lá, ano que vem vou fazer melhor. O percurso foi tão vazio de seres humanos, o céu estava tão azul, a água do rio parecia a melhor em que já havíamos nos banhado até então, tudo era tão perfeito e especial que a gente começou a se perguntar por que ir para Trancoso. A vontade que dava era ficar ali no caminho, em qualquer lugar bem vazio, silencioso e longe da civilização”.

Rita Santos, é carioca, mas conhece a Bahia mais do que muito baiano. Está sempre se aventurando por aqui, onde quer que tenha sol, mar e/ou trilhas
 

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